Ao longo de décadas, o Garça Real foi um dos cafés tradicionais mais frequentados na baixa portuense. A localização privilegiada, na praça D. João I, mesmo ao lado do teatro Rivoli, não impediu, todavia, o fecho, seguindo o exemplo de outros estabelecimentos congéneres, que hoje fazem parte das memórias da Invicta.
As portas reabriram em 2021 para dar nova vida ao espaço, graças a um projeto apoiado na amarantina Casa da Calçada.
Dois anos volvidos, foi tempo de iniciar outro ciclo, com uma matriz diferente, repondo um padrão mais tradicional e aproveitando as valências da casa: o espaço de cafetaria, com entrada independente e área e esplanada, é aproveitado para servir refeições ligeiras, brunch incluído; o restaurante, mesmo ao lado, com 43 lugares, é, de igual modo, um espaço elegante, sóbrio, confortável, com decoração moderna, evidenciando bom gosto.
No piso inferior, uma outra sala é ideal para reuniões com caráter mais privado ou para grupos.
O novo Real Restaurante by Casa da Calçada, aposta na cozinha tradicional, rompendo de algum modo com as voláteis tendências da moda, tão em voga um pouco por toda a cidade Invicta.
A comida de tacho passou a ser uma das bandeiras do restaurante, agora com uma cozinha que expressa a diversidade e sabores da culinária portuguesa.
A lista é vasta e contempla a especialidade da semana; sugestões de almoço; pratos especiais para duas pessoas partilharem e a ementa tradicional.
No “couvert”, manteiga das Marinhas, broa de Avintes – tão esquecida da restauração portuense -, azeite extra virgem do Douro expressam portugalidade.
Nas entradas, nota de excelência para o polvo com molho verde, a tradicional salada, com ova do molusco seca e pimentos fumado e doce.
Na mesma linha, os croquetes de rabo de boi e os carapaus de escabeche.
Outro dos petiscos para partilhar, amêijoas à Bulhão, também foi acompanhado com o espumante Palato 2015.
A sopa de garoupa, um dos pratos de peixe para duas pessoas, revelou culinária sabedora e aprimorada: um caldo substancial, pleno de sabor, muito bem harmonizado com o Palato do Côa Touriga Nacional 2020.
Divinal, o bacalhau à Brás, um prato com alma, pleno de cremosidade. Uma ligação perfeita, envolvente, a revelar técnica apurada na confeção do molho pil pil e no aproveitamento dos ovos e respetivas gemas.
O Palato do Côa Branco Reserva 2021 esteve à altura para casar na perfeição com o gadídeo.
Um dos pratos mais tradicionais da nossa gastronomia, algo arredio dos restaurantes, é a língua de vaca estufada. Apresentou-se muito tenra, acompanhada com ervilhas e um saboroso puré de batata.
O galo de cabidela, outro prato para partilhar, revelou a qualidade da raça do galináceo – preta lusitânica – e do arroz carolino, bem aberto, com um toque de vinagre. Uma harmonia de sabores esplendorosa, acompanhada com Carlos Manuel 2017, um tinto excelente, produzido com uvas do Douro (58%) e as restantes do Dão.
Na recordação de outros tempos, o carrinho de sobremesas viaja pelo mundo da doçaria tradicional: pudim abade de Priscos; toucinho do céu; aletria; leite creme, torta de laranja. O espumante Quinta do Ferrão 2005 fez a harmonia perfeita.
Uma seleção de queijos nacionais preenche outro capítulo da lista, onde predomina a comida de tacho em detrimento dos assados neste restaurante com serviço competente e simpático.
Carta de vinhos abrangente e serviço a copo.
O Real Restaurante by Casa da Calçada devolve à baixa da Invicta, com qualidade e requinte, num cenário elegante, a gastronomia tradicional portuense.
Notícia Publicada em: TSF Rádio Notícias
Por: António Catarino